Em meio à celebração do Dia dos Professores,
surge uma reflexão incômoda e urgente: será que há, de fato, o que comemorar? O
cotidiano escolar revela uma realidade distante das homenagens. Os desafios
diários têm impedido o aprofundamento do trabalho pedagógico. A omissão de
muitas famílias, ocupadas com seus próprios problemas, priva as crianças da
atenção essencial para o desenvolvimento pleno, e quem sofre diretamente com isso
é o professor.
Quando o amor não basta: A falha da formação teórica no
cenário escolar real
As universidades, que deveriam preparar o
professor para enfrentar a realidade da sala de aula, não funcionam. A formação
teórica, baseada em Piaget, Vygotsky, Paulo Freire e outros, se choca com um
ambiente escolar marcado por superlotação, indisciplina e a presença crescente
de alunos com deficiências e/ou transtornos diversos. A teoria, por mais nobre
que seja, não dá conta da prática extenuante de educar em um sistema
desestruturado, principalmente do ponto de vista familiar.
Na universidade, aprendemos que educar é um ato
de amor, mas a verdade nua e crua é que o amor sozinho não basta. Sem preparo
adequado, sem o apoio familiar e sem respaldo de todos que fazem a escola,
nenhum professor, por mais dedicado que seja, consegue enfrentar uma realidade
onde a educação parece, a cada dia, mais à deriva. Vivemos tempos em que o amor
deve ser acompanhado de estrutura, união dos profissionais, recursos didáticos
e políticas públicas eficazes.
O fardo do professor na atualidade: entre a disciplina e os
transtornos emocionais
O papel do professor mudou drasticamente. Se
antes a responsabilidade principal era ensinar leitura, escrita e matemática,
hoje, o foco deslocou-se para uma luta constante em manter a disciplina e
gerenciar os inúmeros transtornos emocionais presentes em sala de aula. Em
muitas turmas, há cinco, seis crianças com diferentes transtornos, e a maioria
delas, sem qualquer acompanhamento terapêutico adequado e/ou eficaz, enquanto
os pais, já sobrecarregados, transferem essa responsabilidade à escola,
buscando alívio emocional.
No entanto, os professores e a própria escola
estão despreparados para lidar com essa realidade, por diversos fatores, que
não convém citar aqui. Além disso, há ainda crianças que não trazem o material
escolar, não fazem o dever de casa, não se interessam em escrever, não abrem
sequer o livro, conversam o tempo todo e criam conflitos com os colegas.
Para agravar, alguns pais, quando aparecem,
transferem a culpa de suas falhas na educação doméstica para o professor, que
apenas busca que seus filhos sigam as regras da escola. O sistema, por sua vez,
tende a favorecer o fracasso escolar ao adotar ciclos sem reprovações mínimas significativas,
permitindo que jovens concluam o ensino fundamental sem dominar o básico, como
escrever um texto simples.
Inclusão mal planejada: professores à beira do colapso
Em um contexto de salas superlotadas, com
estudantes que apresentam uma série de transtornos emocionais e
comportamentais, muitos professores se veem sem o suporte necessário para
conduzir suas aulas. Há cuidadores para garantir que o aluno chegue à escola,
mas será que estamos, de fato, incluindo esses estudantes em um sistema educacional
de qualidade? Infelizmente, a resposta parece ser não. A inclusão, quando mal
planejada e executada sem estrutura, sobrecarrega ainda mais um sistema já
falido, e quem paga o preço são os professores, pois a inclusão só será
verdadeira e funcional quando considerarem o professor, que adoece, física e
emocionalmente, ao tentar dar conta de tantos desafios ao mesmo tempo.
Com a rotina exaustiva e a ausência de apoio
adequado, os professores acabam sendo os que mais necessitam de acompanhamento
psicológico. E quem está olhando para isso? O número crescente de licenças
médicas por problemas emocionais e físicos entre os docentes não pode ser
ignorado. O ato de ensinar, que deveria ser uma prática de inspiração e
conhecimento, se tornou um campo de batalha, onde o professor tenta,
diariamente, sobreviver em meio a tantas dificuldades.
Os professores de outros tempos, que viveram a
era do pó de giz, estes sim, sabem o que é o “chão da sala de aula”.
Diferentemente daqueles que, hoje, fazem discursos eloquentes, mas nunca
enfrentaram a realidade diária da educação básica, sequer por quatro anos
consecutivos. Esses professores, formados no magistério, traziam consigo a base
para lidar com a prática, algo que parece se perder na formação atual.
É urgente repensar que tipo de professor
estamos formando. Não adianta citar os teóricos da Educação. A teoria só se
sustenta quando acompanhada pela prática pedagógica eficaz, pelo exemplo diário
e pelo envolvimento de toda a comunidade escolar. Só assim será possível
consolidar uma educação de qualidade.
O desânimo dos novos professores: reflexões sobre o futuro
da educação
Trágico é sermos testemunhas do futuro de nossa
profissão ao recebermos os estagiários do curso de Pedagogia, que chegam às nossas
salas de aula, e já desanimam ao verem a nossa situação: "Deus me livre,
não quero isso para a minha vida" é uma frase comum entre eles. Preferem
lecionar para os alunos mais velhos, fugindo dos desafios da educação infantil
e fundamental.
O Dia dos Professores, mais do que um dia de
celebração, é uma data que deveria nos fazer refletir sobre o futuro da
profissão. Aqueles que estão na sala de aula, sem apoio, sem respaldo, sabem
que não há o que comemorar. Nem mesmo a categoria consegue se unir em defesa de
seus direitos, diferente de outras classes trabalhadoras que adotam o lema
"mexeu com um, mexeu com todos". Seguimos divididos, enfraquecidos,
acorrentados a um sistema que já não exige o básico dos estudantes, que é o
respeito e dedicação aos estudos e, a falta de ação dos governantes, deixa o
professor sem poder exercer seu papel como deveria.
Saudamos com carinho os nossos colegas
professores que que se mantêm firmes na missão de ensinar.
*Ana
Maria Castelo Branco é natural de Passira, Pernambuco, Brasil. Mestra em Letras
pela UFPE, Professora da Educação básica, escritora, poetisa e contadora de
histórias. Organiza e também participa de antologias e coletâneas. Possui 9
livros de literatura infanto-juvenil publicados. Em 2022 publicou o Cordel das
Anas, homenageando todas as mulheres que se chamam Ana ou têm Ana em seus
nomes. Já escreveu artigos de opinião para o Diário de Pernambuco, o jornal
mais antigo em circulação da América Latina. Criou com o marido, um estilo de
poema minimalista denominado CASTELOVERS. Ministra oficina de escrita literária
e foi premiada diversas vezes com as suas poesias. Acredita em Deus, no Amor e
na Vida Eterna. Instagram: @anamariacastelobranco1